terça-feira

Perto

Não chegue mais perto.
Pode ser que você ouça o meu pensamento.
Pode ser que ouça meu coração
pedindo pra sair do peito,
pra entrar no teu peito,
pra que eu pulse aí dentro.

Não chegue tão perto.
Pode ser que eu não consiga esconder
essa parte de mim que reparte
toda vez que me vejo sujeito
de querer seu incerto.
Estou a dispor de idas e vindas.

Mas não vá pra longe.
Pode ser que eu não aguente.
Pode ser que te esqueças de mim.
Quero que a distancia seja
o que me traz pra perto de você.
Deixa que o longe seja perto
e que o perto consiga ser
mais perto ainda.

Fogo nos Oio

Existe um fogo nos teus olhos;
Castanhos, profundos, intensos.
E existe uma doçura no teu sorriso,
Que eu queira provar
Com a minha boca.
Nesse tamanho de tempo
Não mato nem uma só vontade.
Nesses curtos minutos, imensos,
Nem a metade.
Teu corpo solto se mexe
Como um bicho selvagem.
Como água correndo,
Como uma chama no vento,
Como me chama em miragem,
Como um oásis.
É apenas um movimento no mundo
Capaz de estremecer a cidade.
Existe um fogo nos teus olhos;
Intensos, castanhos, profundos.

Navio

Sem saber se era certo ou errado,
Embarquei num navio de partida.
Vi a vista, de perto, bonita.
Vi o sol dourar o corpo.
E o sal repousar no cabelo.
Mas assim é a vida,
Hora as ondas se acalmam,
Hora o mar se agita 
E te leva a outro lugar.
E nesse momento você nem se dá conta
Das alegrias das chegadas,
Ou da saudade da partida.
Só observa o vento nas velas
Enquanto ainda paradas.

quarta-feira

Você sempre soube me amar com o coração
Faltou o resto
Faltou me amar com os olhos
e conseguir ver a mim
conseguir me enxergar
Faltou me amar com a boca
com as palavras e com o silêncio
que sempre me ameaçaram
Faltou me amar com as mãos 
que sempre me tiveram ao alcance
que nunca deram quando receberam
sobraram gestos de "pare"
faltaram gestos de "fica"
Faltou me amar com a cabeça
por que pensar era sempre sobre mim
ao invés de em mim. 
Faltou me amar com a pele
que nunca pareceu sentir a ausência da minha pele
Faltou aquecimento, deslizamentos, arrepios. 
Principalmente com a pele
que era pra ser cama de abraços,
travesseiro de plumas
alicerce...
Era estranhamento, distancia, muralha.
Eu estive aqui fora, bem amada
inundada de sentimentos
Faltou só me deixar amar, 
me amar,
aí dentro. 


Eu já não sei fazer metáforas
Tudo se tornou imensamente literal
Meus poemas eram metáforas
versos, metáforas
pontos, metáforas
uma verdade paralela ao amor real
a poesia foi esquecida
comida pela dor
como se o tempo esquecesse a primavera
como se a palavra esquecesse seu sentido
como um tiro que esqueceu o alvo
Eu sou pra sempre inverno
e qualquer semelhança a uma metáfora
não é mais poesia
é mágoa.
De todos os vícios que larguei.. o cigarro foi o mais difícil, mas de longe, você era o mais destrutivo..
Eu cheguei um pouco mais perto
como quem pede permissão.
Me olhou nos olhos,
mirou minha boca
e hesitou.
A dor do seu não
me tomou um segundo.
Adrenalina do incerto,
coisa pouca,
pra quem conta o tempo
em outro tempo.
E foi mais do que eu podia.
O meu corpo respondia
mas o resto parou.
Perdi a força, o controle.
Ter mãos perdeu o sentido.
Teu toque tomava o momento
tomava a musica pelos gemidos.
Foi tudo tão delicado, tão intenso
que dentro de um sonho, caberia.
Caberia jogar tudo pro alto.
Caberia mais um coração partido.
Caberia parar de pensar,
perder a razão e o senso.

terça-feira

Sou uma vitrine

e no reflexo desse espelho

antiguidades 

segunda-feira

Um gole de cerveja
e o reflexo do meu rosto fala de amor
em cima da mesa.
Podia ter sido mais simples.
Podia ter sido uma coisa que seja
um longo inicio pra uma coisa maior.
Podia ter sido depois da sobremesa,
depois do chocolate.

Uma grade de cerveja,
imagem turva de uma memória presa
como um gole que não desce mais.
Uma tristeza me abate.
"Me traz a saideira, garçom!"
As marcas de suor do copo
fazem curvas no vidro.
E tento limpar a saudade do rosto
com as lágrimas caídas,
e um guardanapo
já sujo de batom.
O nosso amor é sertão.
Paisagem bonita, se vista,
cores intensas...
Tudo é terra, é fogo, 
é laranja e lilás.
Mas pra quem vive lá,
tudo é escasso,
falta água, alimento,
verde no chão.
Eu sou otimista,
vivo pelo amanhã,
e minha fé dispensa
o pesar desse jogo
de diária aposta.
Sinto o penar,
a terrível espera
de alguma resposta.
A esperanca sincera
de um pingo de chuva,
para o meu coração.
Quando eu fecho os olhos
ainda suspiro
vejo teu rosto, sinto teu cheiro
tão mais forte agora
tão mais marcado na memoria
e ainda suspiro
eu já fiquei sem ar com teus cabelos
já me abalei pela tua voz
pelo teu jeito de andar
pelas tuas curvas que parecem combinar
com as quinas do mundo
Eu ainda as vejo
e ainda suspiro
mas hoje, o que enxergo
é a mulher que me apoia
que cuida de mim
é a mulher que me mostra o caminho
que aponta os defeitos
que segue seus passos sozinha
e ainda admiro
a forca com que esta certa ou errada
a beleza com que muda meu dia
a suavidade com que me dá colo
e com que derruba meus muros
as vezes passa desbecebido
mas eu vejo lá longe me chamando
a grandeza que voce é
e ainda suspiro
por cada surpresa
por cada certeza
por cada dia ao seu lado
sou felicidade em achar
toda luz e a sombra de tudo
no meu amor
no meu espelho
e voce é meu espelho
voce é meu amor
te dedico meu eu inteiro
meu riso inteiro ao te ver chegar
e ainda respiro
cada vez mais puro,
mais claro, mais profundo
pra suspirar





te peço perdão
tem coisas das quais eu tenho toda culpa.
tem coisas que pesam sobre mim
eu tenho uma vontade inerente
de acordar todo dia ao seu lado
de dormir segurando sua mão
tenho a necessidade de te fazer sorrir
de transformar os seus dias
de encontrar sua paz
te peço desculpa
pela minha saudade insaciável
pelo meu amar demais
eu sinto tamanha intensidade
ao te abraçar
que te abraçar é incansável
te olhar, te ver passar
e é tão fácil me perder
entre o pedido pra ficar
e o abandono ao ver partir
te peço perdão
por que é impossível flor
me dar tudo que preciso
sei bem disso
não faz sentido
eliminar teu pranto
e ser razão do teu sorriso
mas perdoa meu coração
ele não sabe amar
ele erra, regride, machuca
e insiste nessa ideia maluca

de viver de amor
Nunca antes estive aqui.
Lugar mais fascinante não há.
Tudo aqui me interessa.
Nada aqui tem pressa.
O próprio tempo tem que esperar.
Galeria de sentimentos,
não guarda momentos
mas guarda todas as sensações,
todas as coisas que já vivi.
Como é que eu nunca estive aqui?
Sempre passava na frente.
Havia sempre uma placa de "entre",
e dores, e cores, e amores,
e tudo que me chama atenção.
Eu olhava por entre as frestas,
espiava pela fechadura.
Mas coragem me faltava
como se fosse lugar perigoso.
É difícil assumir verdade tão dura, inclusive.
Que minha força mais potente
é minha sala mais escura,

é o meu coração.
Não há nada a temer
O tempo é todo nosso
O mundo é nosso abrigo
E através das tempestades,
dos desertos,
das mortes, e ressurreições. 
Você pode contar comigo.
Não precisa fazer mais.
Não precisa pedir mais.
O sonho é realidade
Na luta sou eu e você.
Se fugo tu me encontras.
Se corres eu te persigo.
Nas tuas vitórias e imperfeições.
De olhos cegos ou peito aberto.
Você pode contar comigo.
Nos momentos em que os versos faltam,
que a dança acaba,
que o silêncio é o inimigo.
Você pode contar comigo.
E quando a vida te encher de sorte. 
Te mostrar o quanto você é capaz.
e iluminar uma parte da estrada,
é pra você o caminho que sigo.
É a tua voz que me chama.
É o teu abraço.
E quando tu se encaixa
você pode contar comigo.
Quando o medo se fizer mais forte.
Quando tudo ferir, tudo abalar, tudo acabar.
E qualquer verdade parecer castigo.
Tu voltas pra a casa que tem dentro de mim.
E se faltar amor, coragem, clareza, desejo
nos dias mais difíceis.
Se o mundo estiver contra nós, 
e o tempo testar o que eu digo,
ainda assim,

você pode contar comigo.
cansei de viver em ti
chorar em mim

morrer em nós
Não consigo acompanhar
o ritmo em que as coisas mudam
a velocidade .
que os dias distorcem as tuas verdades
em que simples pensamentos
comovem o mundo

estremecem as bases
o mundo é a minha casa.
saio destemido pelas ruas,
transito entre as pessoas sem cuidado.
sou acolhido pela madrugada.
arrebatado pelo sol que nasce,
que nunca se atrasa.
e por todo canto me sinto amada.
sou paparicada por todo canto.
confiante, alerta, preparada,
sigo o conselho que me foi dado.
que por outros caminhos vividos
ainda espelha uma vida na sua.
você, que me mostrou a fé, 
que me apontou o caminho
e que me deu o mundo

sonho o mais alto possivel
despenco sem asas, nem chão
sou grata, amo
perdoo e peco perdão
dou valor ao q é invisivel
ao incrível, ao inadimissível
nessa jornada seguro tua mão

e sei que nunca estarei sozinho
existe uma fabrica dentro de mim
produzindo ilusões
apostando em fantasias
e ela dilui verdades dentro de mim
cria delírios, cria fascinio
cria encantos por todos os lados
e não sei faze-la parar
é como se não houvesse como
não continuar
até onde eu não sei o caminho
não sei dar as costas
não sei dizer não
ouço minha voz mais de dentro
dizendo em palavras de baixo calão
não adianta querer diferente
manter a linha de raciocínio
manter o que acalma, a calma, a alma
sempre que o sonho se transforma em gente
vejo que é feito de água
e escorre pelas minhas mãos
nada é tão solido
pra se fazer matéria
pra se fazer verdade
essa magica que vejo na minha frente
é o desejo inútil da felicidade

truque mais fútil da minha paixão
Quando ela dança
o mundo inteiro entra em movimento
as flores se viram para ela
parece que cai uma estrela 
e toma o lugar dela
e não há espanto
por que é a natureza
é um encantamento
é a verdade que há nela
que ao mesmo tempo
consegue ser

sol, chuva e vento

domingo

somente o amor me consola
das palavras amargas já proferidas
da estagnação dos sentimentos
da bruta e corrosiva magoa
da dor causadora das feridas
abertas, latejantes, vivas
e me move na paralisia
e tira o peso dos duros momentos
e faz do teu isolamento
a minha escola
e faz dos meu atos, alternativa
de escolher sempre você
você que é mais do que
as palavras me dizem
do que a pausa ou desgaste
do que é dor ou escuridão
eu sinto além do que posso ver
eu sinto o caminho falho dos pensamentos
o ciclo de forca e anemia
o corpo em eterno contraste
contraído, contraposto
gestos que contradizem
o que as fantasias me falam
e nela você sempre ia embora
eu era sempre indecisão
cega pelas incertezas que eu calo
muda pela insegurança que toma
não vi o passar da hora
nem teus traços mudarem no rosto

quase ou certamente perdi o tempo
mas venho sem medo, sem pena
tirando a pedra que há no caminho
te dizer que a dor é pequena
que o amor se revela sozinho

impermeável, crescente, exposto
Ela não sabe ver
ela não consegue ser
razão principal
da minha loucura
a roda gira em torno do centro
sempre voltando ao mesmo lugar
não se sabe se ela vai parar

ela é cega, ela nega
que o que digo é a verdade mais pura
ela, na verdade, quer diferente
eu, na verdade, não sou o bastante
não pra ela
ela toca de olhos fechados
os contornos do meu sentimento
ela sabe o tamanho
sabe a textura
não sabe o que tem por dentro
não sabe que eh feito de ferro
não vê o espaço que toma
não sente que não engrandece
não sabe que é feito de tempo
e fica um espaço entre a gente
que é tanto abandono quanto ternura
sempre houve motivos
pra justificar a entrega
sempre sou eu
que não aceito
que não proponho
que não entendo
que desdobro o tempo
pra ficar mais distante
que desisto
que vai e é puxada de volta
que sou mamulengo
cuidadosamente manuseado
que fico sem chão 
quando sonho
estamos aqui novamente
nesse ciclo constante
até quando ela vai se esquivar?
ela é cega, ela nega
as coisas que eu sou e rejeito
no fundo, no fundo
sou eu que insisto
por que ela, na verdade, quer diferente
eu, na verdade, não sou o bastante

não para ela
Existe um lugar no abraço
que em ti me ajeito
que em ti refaço
que em ti construo
e da laranja chupo os bagos
hora doce, hora ácido
quase sempre amargo
és pra mim cadente e viva
pedante e nova
as convenções que eu rejeito
historia sempre pelo meio
és pra mim a prova
do que em ti eu vejo
matéria fina e criativa
musa imaculada do desejo
e em ti eu brinco
de crescer pra um lugar 
sem tamanho
que em ti persigo, em ti percorro
noite de lampejos
céu hora claro, hora morto
minha inconsequência,
minha pequena,
minha saudade crescente e plena
és tao maior que o sonho
és tao maior que o tempo
és pra mim teto e chão do sentimento
meu laco dado
minha escolha permanente
meu grito por socorro
és sempre noite
sempre lua
sempre medo
minha sede, minha água
meu maior segredo
e em ti eu sinto
a fantasia,
dos mais breves desenganos
a alegria,
de me esconder sobre teus panos
minha covardia dura,
minha vontade, 
correndo desvairada e nua
poesia de rima livre
e verso torto
minha coragem
minha ousadia
de correr oposta ao dia
de ser laranja
e aventura
"cavalo a solta
pela margem do teu corpo"

Dor de saudade eu nao tenho
ela se abriga no lugar mais confortavel
entre a vontade e o pensamento
saudade mansa, branda, 
brasa de fogo aceso
mas basta um pouco de ausencia
basta sair do desenho
que a vontade perde o contorno
e risca um outro momento
saudade inesgotavel…
que pede e que manda
que alimenta a forca do meu desejo
e dentro da minha lembranca
nenhum gesto eh desprezo
eh so o pensamento incansavel
que cabe num beijo
e faz do corpo um abrigo

para o teu retorno
Um ciclo sem fim
de inexplicável distancia.
De dias solitarios,
de noites esquecidas,
de saudade,
de muita saudade.
O coração cansa
de bater desamparado.
Seu pensamento
ouve meu pensamento,
mas ignora.
Abraco diário
que criou raizes,
que criou espaço,
perde a esperança
de acalentar.
E fico em migalhas,
lentamente consumida
pela ansiedade
que jurei não dar de comer.
Qualquer vontade e expectativa
no dicionário das palavras não ditas,
na conversa de verdades falhas.
É involuntário
deixar de querer.
As coisas que me aproximam,
que são a razão da distancia,
que conduzem a vontade viva,
de deixar o tempo passar
pra que eu esqueça você.

sexta-feira

Dança

Ela se move no mundo como quem dança
girando, girando sem saber onde ir
A vida se revira em música
ganha cor e compasso
ganha passos, e pulos, e gestos de amor.
Descalça ela vai com cuidado
pisando, pisando sem escorregar
são muitos sonhos pra serem pisados
sem conseguir não quebrar
um calo no pé…
uma dor muscular…
Ela balança, balança sem se esconder
quem dança não sabe escolher
A verdade do corpo é a verdade do mundo
O tempo a passar vai desgastando
A verdade misturando com a fé
o movimento é completo de dor
Ela prova a vida com a língua
e não se deixa mastigar
Engolindo, engolindo sem engasgar
Sofre com o vento que a leva
mas não leva o apego
Cuidado! um sonho entalado
não se faz respirar

Leve, como um domingo de sossego
triste, como um conto sem fim
Não adianta tirar os sapatos
Não pra pisar dentro de mim
Ela vai caindo, caindo
sem saber se opor
Faz parte da coreografia
criar ilusāo
retrair o aconchego
reclamar os sonhos
rebolar a vida
Trazer luz pra sua escuridāo
Ela se move na sombra
Sumindo, sumindo
sem tédio, sem medo

Eis aqui o seu maior segredo
Ela sabe que a cada movimento
em busca de outros sonhos
não a faz prever os fatos
e o apego…
dança em mim a despedida

cansa em mim a devoção

domingo

Resposta a um soneto

Quem precisa de um soneto?
Contar as palavras, os versos?
Engenhosamente perverso
Evidentemente obsoleto.

Encasquetada com a próxima rima,
mantendo ritmo e nexo.
a, b, b, a, nos versos de cima,
e uma palavra que rima com sexo.

É triste perder o compasso,
apago, borro, não sei o que faço
mas não se aprende só nos acertos.

Catorze versos com um pensamento,
pra provar o aborrecimento,
Que é escrever um soneto.
Não quero lavar o teu cheiro do meu corpo.
Não quero que o suor saiba de onde vem.
Não quero desvendar o mistério do cabelo na cama.

De olhos fechados, músculos tensos.
Vou mentindo um controle evidente.
Vou mentindo a irracionalidade explosiva.
Foi como se o ar se enchesse de perfume,
e o amor fosse dono de ninguém.
Qualquer suspiro é sopro
pra levar pra longe quem se ama.
Mas você se mantém presente,
na cabeça, no suor, um sentimento.
Causador e difusor de sofrimento,
que na minha alma se conserva viva.
Uma lágrima cai no teu rosto
e sinto teu gosto molhado.
Não é doce.
Não é amargo.
E não sei qual sentimento é salgado.

Outras Bucetas

Não existe outra buceta no mundo
todas as bucetas deixaram de existir
quando você criou voz, cheiro,
charme de cabelo…
Se esconde de mim.
Se mostra pra o mundo
como se mundo não destruísse por dentro,
como se mundo não existisse.
Só eu existisse...
Eu e a ausência de outras bucetas…
Eu e os teus detalhes.
Eu e teu corpo solto 
tentando engajar,
tentando encaixar,
o dedo na cara da vida careta.
O dedo
que quer encontrar
vida nos outros planetas,
se fecham de raiva.
Só eu e você
como se não machucasse tentar.
Cade as outras bucetas?
Eu, que não sou nada além de sonho,
mera idiota, mera imortal. 
Te faço sonho.
E qualquer outra realidade
seria sonho, de fato, 
se não nossa realidade.
Me agarro a ilusão de achar
Que será impossível encontrar,
na eternidade, um sonho igual.
No meu sonho você não é paz.
É como se fosse carnaval por dentro.
É frevo tomando o pensamento,
é tormento demais.
Você beija, sopra, mordisca,
bate, cheira, belisca,
com toda autoridade de um metro e meio.
Me fala palavras sem sentido,
me cobre de sensações sem contexto.
Me sobra, derrama, derruba, desfaz.
E nos mesmos braços que encontro abrigo,
a forca do gesto que me rejeita.
Não importa o que tenhamos sido
se eu tivesse te tido efêmera de pretextos.
É nos teus olhos que reside o perigo,
e eu nao evito nada do que você faz.
No meu sonho você imita
as coisas das quais a paixão é feita;
Devastadora, bombástica, desesperada,
a beira de um penhasco sem freio.
E mesmo no sonho eu fico adorando
qualquer movimento que chama.
Sofrimento cruel pra quem ama.
Assombração pra quem vive sonhando...

Acordada.

terça-feira

Existe mais do que posso ver
existe a espera, a trama,
a tensão que paira no ar.
Quando chega o teu toque,
não sinto tuas mãos.
Sinto teu corpo inteiro,
a se mover.
Eu vou a mil por hora.
Você, parece não ir.
É sempre como se fosse o primeiro
corpo que deita na minha cama.
Te aprender
é reaprender a amar.
É equilibrar a sensação
com a vontade de explodir,
com a intensidade de conter,
o choque.
Teu cheiro inunda meus sentidos.
Eu vejo os teus gemidos,
ouço a tua pele,
e ela me chama;
Quente, úmida, imóvel,
palpável, finalmente a me caber.
De todos os amores plausíveis,
doces, fáceis, devidos.
Fui eu quem escolhi
a desbravada aventura incrível,
que é você.

Resolve no corpo

Resolve no corpo
a briga que tem comigo.
A progressiva intriga,
que não sei se consigo,
faze-la mais concreta.
Pra tudo que revigora
e interpreta
o que existe entre nós.
Só quero confusão,
no que quer que ela diga.
Resolve no corpo;
Arranha, aperta, morde.
As artérias, as entranhas.
Resolve no corpo;
Qualquer desavença que siga
o caminho que devemos trilhar.
Quero me entregar
a vontade mais estranha,
ao auge que teu corpo deseja.
Gosto de pele, tabaco e cerveja.
Gosto que não sabe desgostar
Resolve no corpo
as respostas que meu corpo almeja.
O que na alma me abriga,
mas briga até latejar.
Resolve no corpo.
Vontade antiga,
que não tem voz,
mas que volta sempre,
constantemente,
a me obrigar

segunda-feira

Dentro de tudo no meio da gente;
Cabelo, osso, carne, dente.
O resto é palpável,
eu sinto no ar,
na densidade dos quartos.
Nos olhos, agora fartos,
de tanto esperar.
Se torna pesado, o sentimento.
Na cabeça, nas mãos, nos ossos, no dente.
Na parte da memória
que consigo carregar.
Lembrança insuportável.
Desejo de ficar sempre, dentro
onde o desejo é possível de apalpar.
Então pesa sobre mim o seu peso,
aquele do desejo,
entre o cabelo, mão, osso, dente.
Entre todo o resto
no meio da gente.
Te vejo assim de frente
(de pernas cruzadas).
Eu te olho agora,
que tu olha pra fora,
pra que nao te sintas olhada.
E faço meus olhos de mãos
de ar, de agua...
Buscando tua respiração,
tua forma, tuas curvas,
um soluço da perfeição.

Será que caibo aí dentro?
Será que tu sabe o tamanho?
Me entrego ao sentimento.
Aquele que não tem olhos,
que não se define, 
que nem se quer toca,
que não sai o suficiente
pra se sufocar de saudade.
Deixo que o agora determine
a curva, o soluço, o tamanho.
Quero um milênio do silêncio, 
do embaraço, da realidade, 
em troca do sonho.
Posso te escrever versos de A a Z.
E ainda assim não consegues entender
que quando eu falo de saudade,
quando eu falo de vontade,
quando eu falo do concreto,
quando busco o abstrato,
quando falo de amor,
quando calo,
falo de você.
As vezes é tudo tão intenso
que só consigo sorrir.
Aquele riso nervoso
que é mais ombro que dente.
Ainda bem
que não sai em som de voz,
externando o que fica por dentro.
Ainda bem
que mesmo perto não consegues ouvir.
As vezes é tudo tão intenso
que qualquer riso é gozo.
Aquele que faz tremer
dos extremos ao centro.
Ainda bem
que não chegas mais perto,
que o espaço que existe entre a gente,
por mais que inexistente,
ainda consegue conter.

Seu som

Grave e penetrante, como você.
De um pecado eclesiástico.
Deixo o pensamento me levar
a sentidos que nunca provamos.
Deixo tocar, uma, duas, dez vezes
até conseguir entender.
Aonde você quer chegar.
Até onde você vai chegar.
Que dor vai me causar.
De que maneira você vai me ter
Doze, quinze, vinte vezes.
Deixo tocar...
Perdi a vontade do risco,
da morte certeira.
Aquele frio na barriga.
Aquela dor já amiga,
agora é a violência
das palavras já ditas.

Caminhei pela estrada 
que dá num abismo.
Caminhei até calejar os pés,
calejar as mãos,
calejar a graça da brincadeira.
Perdi o tesão.
De invadir cada espaço vazio.
De dar o coração pra porrada.
De dar de comer pro escuro;
pobre, chulo, vadio. 
Que quando olhado de perto,
não se vê nada.

terça-feira

Já não aguento mais! 
Se torna incarregável a leveza do momento. 
Se torna indecifrável os sons do sofrimento 
Se torna pesado demais 
Ver o pingo do cabelo molhado cair no seu pescoço 
Ver teu sorriso sem dentes quando sem graça 
Ver tua mão tatear a mesa procurando uma coisa que não sou eu 
E requer tanto esforço me mexer cada centímetro sem ser na sua direção 
Por que o gesto do teu corpo me chama chama até se tornar fumaça 
Chama todos os beijos que você nunca deu 
É voz, é cheiro, é forma 
É vontade de entrega ao desejo, de foder com a razão. 
É vontade. 
De fazer das palavras, lingua 
Pra te lamber por dentro 
Eu não aguento mais! 
Essa parte de mim que conforma 
com o tempo que o corpo perdeu. 
Nas fantasias te visto e desvisto. 
Arranho, mordo, tremo, assisto 
Até onde vai tua vaidade 
Até onde eu consigo dizer não 
O ponto certo em que se torna  pesado demais.

Soneto Gay

És pra mim, todas as cores do mundo.
Filtro de arco-Íris encruado na retina.
Por fora, rosa, suspiro de menina.
Vermelho, mulher, se olhar mais fundo.

Azul e verde indefiníveis no seu mar.
Na escuridão de sempre te perder.
Na esperança de voltar a te encontrar.
No laranja e amarelo de cada amanhecer.

E agora falta algo que eu não sou quem tem.
Talvez mais contorno na sua aquarela.
Talvez um traço que eu não possa viver sem.

Então fico a olhar o mundo da janela.
Todas as cores do mundo nas cores dela.
A lilás, todas as sombras também.

Eu nunca soube querer, assim como a maioria das pessoas fazem. Como quem quer uma casa, ou uma viagem pra Paris. Coisa dessas de sonho mesmo, de trabalhar a vida inteira pra alcançar. Esse meu querer é meio brando, fazer o que? meu desejo tem outro jeito de estar. Estar sim por que não é, nunca é permanente. Dia após dia a vida me ensina que o que é hoje, amanhã não será. Que quem fica parado é antigo, conservador, ultrapassado. Nessa vida eu acho que nasci moderna. O mundo desmorona ao redor, e eu permaneço indiferente, rascunho de gente, que me tornei. Então veio você, como poderia ter sido qualquer outro a chegar, e eu assim desavisado que tudo iria mudar. A saudade, por exemplo, se tornou eterna. A vontade de te ter tomou dias e noites, e meses, e todos os momentos que dedico a ter qualquer lembrança ou pensamento em você. Tudo era fugaz, distante, ou indecifrável. E quanto mais te vejo, quando mais fundo olho, vejo o quanto eu errei de não querer algo assim, tanto. Porque tudo que eu te proponho é pouco demais pra se fazer sonho. É covarde demais pra te levar desse mundo, pra o que eu criei. Tudo passa ao redor, mas você não passa. Tudo tem outra dimensão diante do espaço que você já ocupava. Fogo que queima pra arder. Culpa por culpa eu sinto é pela covardia de não te dizer tudo, de não te pedir tudo, de ficar obsoleto.

quarta-feira

Silêncio

Tudo agora é silêncio.
Pedra, fogo, perigo...
Tudo silêncio,
que está dormente
e que não se vê
É preciso ter fé
nessa história no meio da gente.
Nessa coisa que meu corpo todo me diz
e que não pode ser.
Posso te dar todo o tempo.
Posso ser mais um amigo
Posso ser nada.
Mas posso ser tudo que já sou pra você.
E não seria tão diferente,
tão inconsequente.
Deixar ouvir o silêncio
porque o barulho não deixa dormir.
E pra pra mim, é o que você é:
Perigo, barulho, abrigo
Mas eu ainda nao acredito
e é preciso ter fé
pra morder esse bolo seco
e manejar engolir.

segunda-feira

Coração aposentado

Me sinto uma idiota
de ter me entregado.
Trabalhando as paixões
de um coração aposentado.
Empenhada em desvendar
que mistério dessa vez...
o que foi que me fez
entregar os pontos?
Entre tantas intenções
que poderia alimentar...

Decidi abrir a porta
ouvi chegar desejo.
Deixei de molho um mês
pra ver se se afogava,
mas o desejo consome
se não é consumado.
A paz, em processo de despejo.
E eu me sinto uma idiota
de te querer ao lado,
alimentando ilusões
num coração aposentado.
Esse querer está se tornando vicio,
mas não faz bem querer,
ele mata lentamente...

Essa vontade louca de você
quando não devo, não posso.
Tortura e sacrifício
pra me manter calma,
me manter longe.
Me embrulha o estômago
essa saudade crescente,
e me tira o sono, que sono?
Pensar em te ter novamente
Logo pra mim,
que se vicia em qualquer absurdo.
Viciada no teu insano,
no teu querer bem,
no teu saber tudo.

quarta-feira

Lugar pra viver

Não tem quem me diga
que não quer um vintém.
Conhecer as torres e muralhas,
tomar um bom vinho,
ter uma vista bonita.
Evitar a rotina e as batalhas
que lutamos sozinhos
pra ter uma boa vida.
Não existe ninguém
que não goste de uma cama macia,
de uma comida gostosa,
luxo que tão poucos tem.
Mas a verdadeira alegria,
o homem não imita,
e a troca não deve empobrecer.
Nada como um bom carinho
e um dedo de prosa.
O melhor lugar pra viver 
É no coração de alguém.

Mais um

Quem diria
que os pés sairiam do chão
já no inicio do dia.
O frevo no coração,
magia bem vinda.
O suor espalhado.
Um cheiro roubado.
Mais um carnaval em Olinda.
Eu poderia contar os dias
mas as horas não passam.
O tempo parou desde aquele dia.
Ele restou nos teus olhos nos meus.
Se deixou no teu cheiro, que ficou.
Se perdeu no prazer do momento,
Se perdeu, o tempo,
e não acha o caminho de voltar.
Paralisou o pensamento.
Devaneios de uma loucura frequente,
paixão eminente, 
que congelou o mundo no momento 
em que as horas pararam de passar.
Eu poderia contar os dias
mas o tempo perde o sentido.
Dele, sou mero brinquedo
Ele teima em brincar com a gente.
Juro que chego a ter medo
que ele fique perdido.
Hoje não esvaziei os cinzeiros,
não varri o quarto,
não tinha a quem esperar.
Questiono se um dia tive.
Se não foi só um sonho tamanho
a se materializar.
Me deixei não ver os sinais
não seguir os instintos,
me dar por inteiro.
E aqui estou, sozinha.
Cinzeiro transbordado ao lado,
me perguntando se não quero mais,
a tua complicação com a minha.

Chocolate

Uma tortura te ver se mexer.
Mexe com tudo que tenho de sólido.
E me morde e arranha por dentro,
e o mundo entra em paralisia.
Teu cabelo bate no rosto
e noite se torna dia
num pensamento estólido.
Chega a doer
não estar um milímetro mais perto
A arder
não te ter ao alcance do cheiro.
Não ter na minha boca
o doce da tua língua.
Nada está certo
por que doce nem é teu gosto.
O gozo não te abate.
A noite toda você vai dançando,
e eu aqui me afogando
no seu chocolate.

Isso que somos

Somos o tempo em que o certo perde o comprimento.
Em que arrepios pedem calma.
Em que o desejo padece aos sentidos.
E não consigo pensar menos,
nas linhas que contornam pensamentos.
Nas tuas linhas, tuas linhas…
Me tomam todo o tempo.

Voce é minha teimosia
minha imoralidade,
a coisa que eu toda desejo.
Tema dos meus roteiros.
E se nunca chegar o dia
em que eu te alimente de beijos,
já sinto saudades.
dos dias que eras minha.

H

Vejo de longe os cachinhos dela
dando textura a uma multidão.
Mal conheço a razão do seu sorriso,
a timidez dos seus contornos.
Mas olho pra ela
com olhos embalados de paixão.
Não sei se e a paz que me traz
ou a malícia que se esconde lá dentro,
mas nada no seu mundo é morno,
nada não acaba em riso,
mundo que não cabe dentro.
Vi o dia clarear.
O céu se encher de cor.
Era laranja, amarelo, rosa
em todo seu esplendor,
serpentinas jogadas ao ar.
Ao longe o trompete a explodir,
e o povo a cantar num só berro,
os frevos dos velhos tempos.
Dos tempos dos frevos velhos.
Vi beijo, e fantasia, e alvoroço
E vi gente a dançar e a cair,
e a passar com a troça.
No fim vi também,
o carnaval se desmanchar,
aprisionando minha saudade.

Guarda na garrafa com alcool
que é pra não estragar!
E lembra que tem ano que vem
pra se embriagar 
nessa felicidade.

terça-feira

Encontrar

Posso passar a vida inteira
procurando sem encontrar.
Alguém pra constatar meus sonhos,
para revelar meus segredos,
para viver essa brincadeira
antes de a recomeçar.
E não será um desperdício
deixar o amor se tornar vício,
deixar que preencha de medo,
deixar repartir e rasgar.
Vivo da minha maneira
procurando o que encontrar.
Vento leve a levar 
que despenteia o cabelo,
embaraça o pensamento,
e foge, passageiro.
Fecha os olhos pra sentir!

Pobre de quem vê
poesia e verso livre,
pensamento frouxo.
Vento que balança caule
e alimenta o desabrocho
pra quem gosta de escrever.

domingo

Doente

Dói impunemente.
Me tira dois pedaços,
corta aqui, costura lá.
Espantalho de gente
que não quer mais pensar.
Fujo pra outro lugar,
crio outros espaços
pra poder propagar;
A tristeza, a sobriedade.
Eu sei que estou doente
lutando contra o cansaço
e mais ainda contra a verdade.
Te observo de longe
e me fascino com cada movimento.
Cheguei a infame conclusão
de que pobre é um homem
sem você no pensamento.
A brisa vem te abraçar
e te sopra sem nenhum esforço.
Quero me fazer brisa,
pra refrescar teu mormaço,
arejar teu julgamento,
penetrar tua camisa,
descansar do teu cansaço
e morar no teu pescoço.

segunda-feira

Cheiro do beijo

Existe o cheiro de um beijo.
Encruado nos lábios,
no hálito,
no sabor de um desejo.
O seu cheiro particular.

Existe o cheio de um beijo.
E quem diria,
tomaria o meu pensamento.
Me deixaria noites em claro,
com dias sonolentos,
sonhos perturbados,
ansiando te encontrar.

Existe o cheiro de um beijo.
E eu, pobre sonhadora,
despersa, amadora, almejo.
Depois de mais de mil beijos,
nunca parar de beijar.

terça-feira

Aquela mulher

Eu via magia no rosto que eu via.
Um olhar espantado, agradecido,
em estado de admiração.
Era o som da minha voz
no teu ouvido
que fazia acelerar o coração.
Reli palavras antigas
que fizeram sentido um dia.
Eu talvez fosse aquela mulher
que você achava que nem merecia.
Talvez em mim houvesse o encanto
que faltava nas suas noites sem sono.
Talvez se eu tivesse feito valer
a historia não acabasse em pranto.
Depois de um tempo,
eu não via magia, você via abandono
Eu teria uma culpa a menos, teria.
Se eu não tivesse errado tanto.

segunda-feira

Time

Everytime I close my eyes
I see your eyes
staring back.
Darling, fate has a trick,
fate has sleeves,
don't you see?
Somewhere across the way
you wanted to be free.
I let myself go
I let you go.

So time kept to itself
the time for you and me.

Macaco

Como um macaco faminto na floresta
vou pulando, balançando os galhos.
Deixa as folhas caírem,
deixa a poeira abaixar.
Quando vê fruta, faminto
não deixa nem as migalhas. 
Pode estar podre a banana
mas macaco faz festa.
Antes estava faminto,
agora, doente, nem sabe.
Macaco parou de pular.
Acha que pode dormir, acordar
e não ficar novamente faminto.
Fruta podre tira o apetite
Banana podre é fruta mágica.
Macaco não precisa mais pular.
Feliz, macaco preguiça.
Feliz, macaco suado.
Feliz, macaco cansado de procurar.
Agora deita e espera
fruta podre fazer seu efeito.
Nem sabe o pobre macaco,
agora sujeito, 
a não poder mais pular.

domingo

Tudo em paz

Tudo está em paz
nenhuma saudade incomoda mais,
nenhum passado passado para traz,
nem arrependimentos,
nem tédio, nem monotonia.
Tudo está em dia.
As noites estão cheias de amor,
os dias, de fantasia.
E se existe um momento 
em que você não esteja
cada segundo passado
redefine o que é lento.
Que o tempo fique parado
por que só ele desfaz
o riso que disfarça a dor.
Tudo esta em dia.
Tudo esta em paz.

sexta-feira

Menina Tonta

Menina tonta,
acha que o mundo esta preso nos pés.
Acha que a chuva e um passo de dança.
Menina tonta e nua.
Dança o vento, ao invés.
Ela dança o inverno.
Ela dança a fé.
Ela dança o levantar da cadeira,
dança o fazer o café,
o mastigar um chiclete.

Menina tonta!
Dança gravidade na lua.
Dança cores pra quem nunca viu.
Dança a música dos surdos.
Menina tonta, a dançar.
Virando o silêncio ao contrário
ela inverte
a vida toda ao avesso.
Roda o mundo dançando absurdos.
Roda, até sair do eixo
Menina tonta!
Tonta, de tanto rodar.

terça-feira

Para Recife


Um pedaço de mim ficou por aí.
Ficou no frevo que ferve nos pés.
Ficou no céu cor de anil,
no vento salgado do mar.
Ficou um pouco quando parti.
Através de cada memória
das noites intermináveis
da Bodega do velho
para a terça do vinil.
Fiquei um pouco
e não quero não me deixar.
Na vista do Marco Zero,
no alto da Sé de Olinda,
nas quartas repartidas
entre o Santo e Lesbian Bar.
É como estar lá
pra voltar pra casa no Bacurau
ou ficar e ver o dia amanhecer.
Passar a semana toda esperando
a viajem pra Maraca,
uma Liquid Sky,
ou as festinhas da Golarrolê.
E nem lembre fale do carnaval!
Que injeta a alma de alegria
E superdosa a vida da gente.
E deixamos somente sete meses
a vida se encher de saudade
pra trazer o canaval novamente.
Um pedaço de mim ficou por aí
segurando o pedaço que veio comigo.
É como se tivesse deixado um amigo, Recife.
Nas Casas, Torres, Madalenas
Nas Encruzilhadas, nas Boas Viagens
Nos Campos Grandes e Capibaribes,
nos botecos da minha cidade.

"Acordado"


O vento faz barulho na minha janela.
A manhã canta pra mim.
Assobio desafinado
que faz com que o dia passe musicado...
"Acordado" de saudades dela.

Primavera meu cu


Inverno, inverno...
em Curitiba não acaba.
Amanheço num dia de sol
Anoiteço de baixo de água.
Entristeço ao saber
que não é coisa do sul.
Que é só em Curitiba
que a primavera toma no cu.

Minimalista


Queria escrever algo minimalista.
Sobre a poeira num móvel,
sobre fala arrastada,
cabelo de artista.
Mas escrevo sobre coisas grandes
e sujeitas a não ter fim.
Escrevo sobre meus sentimentos.

Queria escrever algo minimalista.
Sobre a fumaça tragada,
sobre a cadeira vazia,
marcas de pneu na pista.
Mas satisfaço meu pensamento
quando sei que o que sinto
pode ser tão pequeno
que cabe dentro de mim

Pedra


Pelas tantas vezes que eu já cai
e saí dos meus poços de mágoa,
Sou como aquela pedra
que quica na água.
Eu já levantei vôo
pra depois me afogar.
Já estraguei a vida
por falta de amor
e excessos de ciúme.
Sou como aquela pedra do cume
que desce a rolar,
se batendo e desembestada.
Sou a pedra que cede no abismo.
Sou a pedra que sustenta o calor.
Sou pedra de beira de estrada.
Sou o marmore de David
e o diamante de Cullinan.
Sou atirada pra o ar
e frequentemente chutada.
Sou um abrigo do frio.
Sou chão.
Sempre me vi água, vento.
Mas sou pedra!
Da cabeça dura
pra controlar um vulcao de pensamento.
até o coração
que esfria tanto, vazio.

quinta-feira

Queria o saber do sofrimento.
O saber que vem do castigo.
Mas só te tenho beijos.
Nos dias de chuva, trago o abrigo.
Nos de briga, trago uma flor.

Queria tornar teus pés ao chão.
Fazer com que cada calo vire ferida.
Fazer com que chore de dor.
Pra te enfiar na cabeça.
O tamanho do desejo,
a imensidão do meu amor.

sexta-feira

Sou amor

De que somos feitos?
Sou a conjunção de universos,
de vidas e sonhos,
de uma consciência.
Sou os passos que cabem
dentro de cada experiência.
Eu tenho alegria no peito.
Na boca, tenho versos.
Eu significo o infinito...

Corpo de luz, de calor
Sou tudo isso, suponho.
Sou imortal, imperfeito.
Sou o vivo e o inverso.
Sou amor.

domingo

Ainda existe beleza


Para o meu simples prazer
tiro minha roupa.
Olho no espelho...
Averiguo cada curva, cada marca.

Quero parar de olhar!
Quero parar de ver!
Eu não estou louca
e apesar dos cabelos,
da bunda, das coxas
dos braços, do joelho
ainda existe beleza!

Deixa que falem
de peitos arrebitados,
de pentelhos depilados.
Ainda existe gente
que tem os próprios olhos
como modelo.
Eu tiro minha roupa.
Eu não estou louca,
ainda existe beleza...

quarta-feira

Lambendo as Feridas

Vou lambendo as feridas
pra saber se ainda tenho peito,
se dentro dele bate um coração.
Faz tempo que não.
faz tempo que me deixo cega
que ergo alto as mãos
pra me proteger da vida,
dos desafios, dos fracassos,
das paixões.
Faz tempo que estou morta
e sinto só o vazio
do lugar que o amor ocupava.
Amor que é verbo e sujeito,
núcleo atômico,
consciência teimosa...

Vou lambendo as feridas
como se fossem sarar
mas não sara.
O amor alargou, expandiu
e levou tudo que ele me dava.
Levou o riso da tragédia cômica,
levou a parte da historia não lida,
levou a paz despretensiosa.
Os dias não estão entendendo
que o tempo tem que passar.
O meu coração não suporta,
continuar a criar feridas
pra depois ficar lambendo.

segunda-feira

Eu não queria


Eu não queria sentir...
Os pés saírem do chão,
o sangue saltar dentro do coração,
o pulmão parar de expandir.
Eu não queria sentir...
E não sei se foi a mudança dos tempos
ou seu jeito leve de entrar.
Eu não sei se houve um momento,
se existe um espaço onde não possa estar.
E você sempre vem como quem permanece
com os pés fincados no vão.
Eu nao queria sentir...
Mas sentir é só do que sei
o que sempre fui e serei
Cuidado, carinho, paixão,
corpo que acolhe, acalma
e aquece.

domingo

Alguns dias


Tenho somente alguns dias
pra deixar a marca em teu corpo.
A minha marca, do meu corpo,
como em colchão velho e gasto.
E que a saudade possa me fazer companhia
quando não estiveres ao lado.
E que o tempo passe na medida
pra que não haja fadiga na chegada,
nem insegurança na partida.
Tenho somente alguns dias
pra encher o teu rosto de riso
e a tua voz de alegria.
E que seja o bastante, essa felicidade...
Pra esquentar os sonhos
nas noites de frio,
e preencher o vazio
com a minha saudade.

segunda-feira

Costas

Pelas tuas costas
eu sou uma frente.
Pelas minhas mãos
que passeiam impunemente.
Pelo suor que pinga
e salga o gosto.
Em tuas curvas
me perco do caminho.
E desafio o destino
e elevo as apostas.
E viro no teu corpo
um desejo sozinho.
E me acho
nos traços do teu rosto.

sexta-feira

Nua

Os teus olhos me olham
como quem merece um segredo.
Como quem olha a lua
longe, saudosa..
Tua boca fala de medo
mas as mãos não concordam.
E você continua
nessa tentativa perigosa,
empenhada na trama.
Cobrindo de histórias
a simplicidade nua
que deita na minha cama.

quinta-feira


Estar dentro de um sonho
e nunca querer acordar.
Vivo para cansar os bocejos
para revoltar a fadiga.
Pra encher os meus dias de intriga
e as minhas noites de beijos.

quarta-feira


Nó no peito.
Agulha lá dentro quebrada.
Quem sabe eu encontro perdão?
Por hora não!
Vou assim seguindo sujeito
à mais uma decepção.
Com essa agulha quebrada 
dentro do peito.

domingo

Cansada


Cansada de palavras rasas.
De verdades momentâneas.
De instabilidade.
De amores sem asas,
e sem tempo, e sem nexo.
Quero acordar num mundo diferente
onde o amor é transparente
e a tristeza não invade.
Onde eu morra bebendo
fumando, feliz...
Momentos espontâneos
cheios de paixão,
de cerveja,
e de sexo.

sábado

Amanhã


Enquanto o amanha não chega
Me alimento nos teus versos
Tuas loucuras, manias.
Teus pensamentos perversos.
Teus amores,
que pra mim são inversos.
Tua saudade,
tua alegria.

quinta-feira

Lá fora

Quando você vê o mundo lá fora
é com meus olhos que vê.
E o riso das piadas antigas
são meus risos.
Eu sei, meu bem, que o amor apavora
e a dor e a paixão são melhores amigas.
Mas não adianta dar outra cara
pra as nossas lembranças
nem esconder o amor num quarto escuro
O destino pode ficar indeciso
e continuar me levando
pra longe de você.
O tempo não para.
Não é mais hora
de se alimentar de esperança
Um dia, quem sabe, um futuro...
Quando o mundo está lá fora
e é a mim que você vê.

domingo

Dose de você

Precisando de uma dose de você, dessas que cabe num copo, num suspiro, num sonho…
Nunca é tarde demais.
Nunca, é tarde demais.

Deixar


A noite traz o gosto
de um ponto de partida.
O metálico, ácido sabor
de deixar toda uma vida.
Um sonho, um posto, um amor.

segunda-feira

Escapa


Tempos de paz.
Enfim, só a saudade
pode me perturbar.
Talvez quem sabe,
mordida de mosquito,
gente incompetente,
transito engarrafado.
Nada mais
me tira essa felicidade.
Nada mais
conseguiria apagar
esse sorriso gratuito
que ando ostentando no rosto.
A alegria nem cabe
enclausulada dentro da gente.
Ela escapa pelos poros
e pelo sorriso que tenho exposto.
Se o amor não fizesse buracos ele não teria por onde sair.

domingo

Contrário


Preciso ter um pensamento diferente
das coisas que penso sempre.
Renomear minhas ansiedades
e os meus sentimentos.
Pra chamar de riso, o sofrimento.
Tormento, de paz.
Presença, de saudade.
E quem sabe quando for
o contrario do que eu quero,
o que eu peço,
haja um outro entendimento
e eu não queria mais.

Embora

Me deixa ir embora
que aqui já não pertenço mais.
Eu já trouxe dezenas de histórias.
Já deixei algumas boas memorias
e já basta! Já foi tudo dito.
Tantas vezes já penduramos
o mesmo cartaz.
Amor perdido.
Conto de fadas moderno.
Revisado, renovado, rescrito.
Retrato falado de felicidade.
Procurado por recompensa.
Pra quem ama, seu nome dispensa,
apresentações não preciso,
O tempo te leva,
desafiando o sorriso.
E você lá desfilando,
eterna saudade.

Ser novamente


Será que daria pra ser novamente?
Colocar num espaço de tempo,
caber num pedacinho de hoje, a gente?

Será que seria querer demais?
Que ainda exista amor,
que o passado não venha se opor,
que eu fizesse tudo tão diferente.
Ou que a saudade
me deixasse em paz.

Será que daria pra ser novamente?
Os teus olhos do jeito que eu lembro,
as cores todas do mundo, na gente?

Será que seria querer demais?
Que ninguém se importasse,
que o tempo apagasse,
que eu só olhasse pra frente.
Ou que eu, ao menos,
te deixasse pra traz.




Espaço central


Existe um espaço no meio do universo
onde tudo que se canta é verso.
Onde em cada palavra reside a loucura.
Sentidos soltados avulso,
pensamentos sem estrutura.
Nada é realmente perdido,
nāo existe o nāo natural.
Espaço nāo conquistado na gente
dorme, dormente, demente.
Buraco gerente.
Espaço central.

segunda-feira

Noite e dia


Ela se tem como pagã do escuro
e pula e dança pela madrugada.
E faz de conta que as estrelas se contam,
e olha pra traz pra ver o futuro.
Mas seu sorriso faz papel de lua
clareando o azul do pavimento.
Música se faz ao som de sua gargalhada
assobiando como brisa de fim de tarde.
Entre desejos, seus sonhos se montam
e nas cores do dia ela pinta os momentos.
Da pra ver no fundo, bem no fundo,
um traço de saudade,
mas também uma aquarela de alegria.
Ela se vê mistério, escura como a noite
Eu a vejo clara, acesa como o dia.

Covardia


Covardia é palavra que bate na cara.
Não cabe a mim desafiar o sentido.

Sou covarde sim, todos os dias
que hesito um passo, pelo tropeço,
que abdico da madrugada pelo perigo,
que não cutuco a ferida que não sara.

Ela bate na cara
de todas as palavras caladas,
de todos os sonhos perdidos.

Sou covarde sim, todos os dias,
quando não insisto, não reclamo.
Quando me falta algo que quero,
quando faz falta alguém que eu amo.

E sempre falta pouco
pra perder o medo das escolhas erradas,
pra perder o conforto de decisōes já tomadas,
pra abdicar do abraço que ampara.

Não cabe a mim desafiar o sentido.
Eu sou covarde sim, todos os dias
e a covardia, ela bate na cara.

terça-feira

Fonte


Existe uma fonte.
Existe uma fonte de vida não sei aonde.
Ela desagua sorrisos abaixo,
arrebentando.
E passa nos olhos,
e escorre nas pedras,
e por debaixo da ponte.
Existe uma fonte.
Existe uma fonte de vida não sei aonde.

Aguardo


Minha caminhada é de fé
no aguardo de um dia esquecer.
Aquele bicho de sete cabeças,
caixa de pandora,
aurora boreal.
Esperar não é escolher.
Aguardo que um dia eu esqueça
que a saudade mora
naquela mulher.

sexta-feira

Viagem

As novas rotinas:
Um café de manhā
ou um chá gelado.
Uma nova vitrine,
numa nova avenida,
num outro estado.
Estado de felicidade...

Quem sabe um dia

eu aprendo a permanecer,
e aquiete tudo que me faz ir.
Quem sabe eu nāo quero aprender...
Nada dura e o mundo é tāo grande
pra nunca partir.
Pra nunca deixar saudades.

quinta-feira

Último poema


Preciso te escrever um último poema.
Não pela vontade de expelir sentimentos.
Nem pela necessidade de libertar pensamentos.
Mas pra demarcar que houve um primeiro,
e tudo que começa tem fim.

O tempo leva, lava, se renova.
Se faz hora intragável, hora inebriante.
E a vida segue assim
Sem você nas minhas rimas,
sem o amor me por à provas.
lembrando o que foi ilusão,
esquecendo o que foi verdadeiro.
Não, não foi eterno, nem pequeno,
não foi despropósito, nem ingratidão.
Em meio de todo infinito
foi só um instante.
Mero acaso, repetição

O tempo,  além de tudo, é inventor.
Ele faz sorrisos e acenos
Do que antes era amor.

quarta-feira

Not love

Its not love
It’s just a possession, slash
Obsession, slash
Passion, kinda thing.
Kinda thing you regret
For doing or not doing it.
Kinda thing you brag about
And cry about.
Kinda thing you don’t forget.

Foi bom ter você


Foi bom ter você.
Mesmo que por pouco.
Mesmo que quase nada.

Mesmo que por pouco tivéssemos dado certo,
Que os pecados todos fossem perdoados.
Mesmo por que nunca é suficiente.

Mesmo que quase nada seja perdido,
Que não sentisse sua falta de madrugada.
Mesmo deixando um sorriso partido.
Mesmo que o tempo parasse pra a gente.

Foi bom ter você.
Sentir teu beijo apaixonado,
Teu desejo assim tão dentro,
assim tão perto.

quinta-feira

Tremor

Os músculos, os dentes, os ossos,
o tremor, os gemidos.
Tudo por dentro, ninguém escuta.
O amor eu não sei que cor tem
mas tem que ser vermelho.
E vai entrando mais matéria,
moléculas de tamanhos assombrosos.
Partículas de pedaços partidos
desse amor que não consigo viver sem.
Será que tem fim essa permuta?
Será que a culpa não é de ninguém?
Os dentes, os ossos, suportam o tremor
o problema está no resto.
No estômago, nas artérias,
no rosto que vejo no espelho,
no lugar onde mora esse amor.

Ironia

Você não tem culpa, não tem.
A culpa é toda minha!
Eu cometi todos os erros.
Te destratei, desrespeitei,
te ameacei com ciúme e orgulho.
Eu fiz tudo sozinha.

Suas palavras eram doces
de encher de esperança.
Seus carinhos continham
a leveza do universo.
Só trouxeram novamente
as boas lembranças.
Cansei de ouvir tanta poesia
guardada nos versos
que você me dizia.
No teu olhar eu tinha
a certeza do além.
Será que foi assim realmente?
Pense bem...
Eu fiz tudo sozinha.
A culpa é toda minha!
Você não tem culpa, não tem...

Resiste

O meu amor resistiu ao vento
que destrói pontes e barreiras.
Ele resistiu ao tempo
que apaga e esquece.
O meu amor resistiu a preces
à deuses de todos os nomes.
Ao mais duro sentimento,
à insensatez, e à asneira.
O meu amor resistiu a dor,
a inveja, e a humilhação.
Ele resistiu a falta de ar,
a falta de chão,
a falta de cor.
Meu amor resistiu a fome
e se alimentava de insegurança.
Meu amor resistiu a vingança
e a tudo que ele não viu.
Mas ele desistiu de durar,
de regar de choro essa flor.
Meu amor resistiu a tudo,
a todo nosso absurdo.
Ele só não resistiu
a tua falta de amor.